sábado, 13 de dezembro de 2008

O dia que o Brasil invadiu a Argentina

Derrubaram a estátua esculpida em pedra do Maradona, oras, foi a primeira atitude. Picharam a casa rosada com os dizeres: perderam as Malvinas, abaixo a Argentina! Quebraram todas as casas de tango e instalaram quadras de escolas de samba baseadas num jogo argentino de apostas em animais, um jogo desconhecido dos brasileiros. Depredaram as escolas, pensaram: há muita gente estudando aqui nesta bosta! Depois foram coisas menores... Obrigaram aos jovens argentinos a leitura do livro de catecismo, trocaram peso por real, abriram mais quinhentos e cinqüenta e sete mil novos botequinhos, implantaram mais treze feriados nacionais (mais nove só para Buenos Aires), entre outras cositas mais (bife de chouriço virou “picanha”).

Depois, teríamos de pensar, afinal, que para transformar outro país no Brasil, consistiria preliminarmente em pensarmos o que (por favor, alguém me ajude agora) tornou o país verde-amarelo no que é hoje. O que quer dizer: para que a Argentina seja o Brasil é preciso fazer o quê? O que quer dizer, na verdade: para que o Brasil seja a Argentina que seja o Brasil é necessário o quê? Complicado, mas coerente. Explico. Troco um novo parágrafo por uma vaga de suplente no senado. Feito. Vamos lá...

A começar pela bandeira, tudo errado. Coisa mais carnavalesca que cismam em nos dizer que significa verde das matas, azul do céu, amarelo do ouro, branco da paz ( essa é ótima!) e ordem e progresso de... ordem e progresso, piada com fim em si mesma. Hino: aula de sintaxe. Quem entendeu já morreu e quem não entendeu, ficou sem entender. Guerras? Um genocídio no Paraguai (coisa de valente, brava gente brasileira) e alguns levantes dentro do território, mas todos esmagados. – Guerras da época colonial não valem, pois as mesmas eram resolvidas por portugueses, como queremos demonstrar – A Argentina, no mínimo, se levantou contra a Inglaterra em 1982. Já a brava gente brasileira, comprou a Independência, comprou o Acre (entre outros pedaços), comprou escravo, comprou a família real, comprou a queda da ditadura militar e só não comprou a língua portuguesa porque esta nos foi dada. A ditadura militar brasileira torturou sem piedade como a argentina, mas não só a esquerda lá era mais ousada e numerosa como as forças armadas eram mais valentes. Já o exército brasileiro... “Braço forte, mão amiga.”

Sem querer comparar, longe de mim, mas se meu texto não é patriótico, vamos à definição de patriotismo para as duas nacionalidades. Para o argentino, patriotismo é: se não estiver bom, um milhão na rua fazendo panelaço e quebrando tudo em Buenos Aires. Para o brasileiro: votar consciente (?) e saber a data do próximo amistoso da seleção brasileira de futebol, que ao contrário do que muitos pensam NÃO é uma instituição oficial, mas a empresa particular das famílias Teixeira, Havelange e Marinho. E está dito.

E capital? Parágrafo curto: quem mora em Brasília? Quantos sobreviveram à Cruzada de ir até lá protestar?

Poderíamos ir mais longe, tocando a ferida com o dedo encardido e sal grosso. Mas melhor não humilhar, só lançar a sementinha do mal. Sou brasileiro, infelizmente; tenho de carregar esta cruz (que Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim carregava até no nome). O que quero dizer de maneira rasa e chula é: antes de xingarmos os argentinos, melhor pensarmos se somos superiores, se temos moral para isso. Refletir também sobre o porquê de não quererem que gostemos deles, sequer nos inspirarmos. E é com o coração apertado que deixo esta crônica. Um piparote e adeus.

(Guilherme de Carvalho)
***
"Ser valente é muito mais fácil do que ser homem".
(Julio Cortázar – Escritor argentino)

"Há no PT
a idéia de que ou você é petista ou é calhorda, assim como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro".
(Chico Buarque – artista faz-tudo genial brasileiro)

3 comentários:

Carol Borges disse...

adorei a crônica, mas tenho um comentário, a CBF é uma instituição oficial sim, nao é federal ou pública ou estatal, mas oficial é, senao seria ilegal, assim como a rede globo é oficial,mas nao tem nada a ver (diretamente) com o governo..mas isso é só um aspecto tecnico. Nunca fui a maior das patriotas nem apedrejo argentinos que são 80%ateus e isso já diz muito sobre eles, com essa porcentagem, alguma coisa boa eles pensam, certo? no mais, adorei o texto,cada dia vc evolui mais, ta fazendo pesquisa, se preocupando em nao falar besteira, gostei muito!outra coisa, tive que procurar no dicionário o que é "piparote", pra saber que é apenas um peteleco!hahahaha
beijos
te amo

Guto Pina disse...

Cara,
Ótima crônica. Um tanto quanto irônica.
Porém, não chegou a me fazer amar os hermanitos.
RS
E digo mais:
Chico Buarque - artista faz-tudo e mais um pouco genial brasileiro.

Abraços

Guto Pina disse...

Larguei nada rapaz.
Estou sempre lá
e sempre com ela
aahuahuhaua
na maioria das vezes jogando uma sueca no dalb
=]