quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O Dia da infâmia


O dia 26 de outubro de 2008 ficará para sempre na memória do povo carioca. Um dia infame, em que o povo esteve perto de ganhar, e perdeu. Se Fernando Gabeira e a cidade do Rio mereciam alguma coisa, então mereciam ter se encontrado. Mas não, pois no dia da infâmia, quem venceu foi Eduardo Paes.
Ontem, domingo, foram vitoriosos: a velha técnica e prática de campanha, que norteia os objetivos de acordo com as classes sociais, com a função de atingir e deslocar o eleitorado, principalmente o pobre e desesperado; o PMDB, que agora está em Laranjeiras, com Sérgio Cabral, na Alerj de Jorge Picciani, e na prefeitura do senhor Eduardo Paes; ganham também as construtoras e empresas que irão lucrar (e muito) com a possível escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016; ganha o próprio Paes (como todo mundo sabe, o Rio de Janeiro, apesar de ser uma cidade de mais de dez milhões de habitantes, tudo corre à boca pequena), que ficou milionário com o Pan de 2007; ganha o PT, que já vendeu a alma ao capeta tem muito, muito tempo; ganha a Jandira Feghali, que como nunca ganhará uma eleição para cargo administrativo, apoiou quem tinha mais chances de vencer; ganha a parcela conservadora do povo do Rio, que por oito anos (todo mundo também sabe que são oito anos) estará parcialmente livre das prostitutas e dos maconheiros; ganham os marqueteiros safados, que continuarão tendo emprego nesta realidade eleitoral de detalhes sórdidos (panfletos apócrifos e ataques), ou seja, todo mundo ganha, menos o Rio.
Neste final de semana de segundo turno, Eduardo Paes venceu por uma diferença de 55 mil votos. Neste mesmo final de semana, 900 mil pessoas deixaram de votar, em grande parte, funcionários públicos do Estado ou do Governo Federal. Após o resultado do primeiro turno das eleições, o Estado e a União decidiram que o feriado dos funcionários públicos não mais seria dia 28 de outubro (terça-feira), mas dia 27, tornando a saída da cidade mais urgente, num ano de feriadões raros. Gabeira bem que tentou pedir que ficassem, para votar, mas não conseguiu. César Maia, o demônio encarnado, deslocou o feriado para sexta-feira 31, mas não adiantou, 900 mil pessoas, a maior parte da Zona Sul, Centro e Grande Tijuca deixaram de votar. Vitória limpa? Salve Eduardo Paes, o senhor das Upas, aquele que irá nos salvar de César Maia, que apesar de ladrão e avoado, tinha mais de cinqüenta por cento de aprovação. Salve Eduardo Paes, que é réu numa ação do Ministério Público, acusado de improbidade administrativa quando compunha a Secretaria de Meio Ambiente (de César Maia) em 2002. Salve Paes, que comprou votos por R$50,00.
A esquerda em massa chama Gabeira de traidor. Principalmente pecedobedistas e petistas. Mas se aliar ao PRB e ao PMDB é que é honroso. Engraçado, não? Todo mundo acha o PSDB a encarnação do demônio na Terra, mas o PMDB de Garotinho não, o PRB de Crivella não. É hora de parar com esta história de partido. A eleição no Brasil é personalista, e pronto. O PT já foi um dia uma esperança, hoje é parte do rocambole fétido que forma o espectro partidário do Brasil.
A partir de Janeiro, teremos o fim da aprovação automática e 40 Upas funcionando (?), e nos próximos 8 anos, muita, muita roubalheira e pouca ação. Por que a regra é clara, bom mesmo é não fazer nada, pro PMDB voltar prometendo daqui a oito anos e aquele mesmo povo que acha que Upa e reprovação resolvem todo o problema, votar cegamente na campanha mais cara, naquela que mais emociona. É foda.
Agora, foi lindo o Gabeira, o maconheiro, o viado, o que fuma e cheira, ter chegado a esse segundo lugar de meio Maracanã lotado de diferença. É claro que vão dizer que as classes elitistas e meia dúzia de revolucionariozinhos tentaram elegê-lo, mas a verdade mesmo é que ele chegou lá porque era o mais competente, o que tinha um plano grandioso e de frutos eternos para o Rio. Seria a vitória do progresso, e não da inércia, seria a vitória da saúde pública e não das Upas 24 horas. Mas política é isso, a sujeira sempre, sempre vence.

(Guilherme de Carvalho - 27/10/2008)

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